A SOBRECARGA DOS CUIDADORES INFORMAIS DO IDOSO DEPENDENTE
Resumo
Existe um número significativo de pessoas em contexto domiciliário, cuja condição de saúde é caraterizada pela dependência no autocuidado. Estes cuidados prestados pelos familiares requerem, frequentemente, conhecimentos e habilidades de grande complexidade e intensidade, não estando os mesmos preparados para dar resposta adequada a essas necessidades. Os cuidados prestados por um membro de família a um idoso com dependência, podem originar uma sobrecarga intensa a esse familiar. Emerge a necessidade de capacitar os membros da família – familiares cuidadores – como recurso essencial nas respostas adequadas às necessidades dos utentes dependentes. Perante estas situações, torna-se crucial intervir junto destes cuidadores, com o objetivo de desenvolver intervenções de enfermagem de forma a ajudar os familiares a vivenciarem uma transição saudável no seu papel de cuidador, auxiliando-os a prestar cuidados de qualidade, mas também a desenvolver estratégias de coping adequadas para lidar com o stress causado pela sobrecarga do ato de cuidar. Objetivo: Analisar as necessidades e capacidades dos cuidadores informais que cuidam de pessoas idosas dependentes no autocuidado em contexto familiar. Metodologia: Revisão integrativa da literatura que utilizou a mnemónica PICO para compilar a pergunta de investigação. Procedeu-se à pesquisa de artigos na plataforma EBSCOhost, selecionando-se artigos publicados entre janeiro de 2010 e dezembro de 2022 nas bases de dados MEDLINE complete e CINAHL complete. Foram selecionados quatro artigos e seguiram-se as recomendações do método Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA. Resultados: A maioria dos artigos selecionados sugerem existir evidência científica de que existe sobrecarga dos cuidadores familiares. As terapêuticas de enfermagem que se identificaram relacionam-se com: promover a consciencialização; promover o uso de produtos de apoio; ensinar, instruir e treinar técnicas nos diferentes domínios de autocuidado; informar sobre os recursos da comunidade, nomeadamente serviços de apoio domiciliário e centros de dia; supervisionar os cuidados prestados nos diferentes domínios de autocuidado e avaliar as condições habitacionais. Conclusão: Os cuidadores informais que integram dependentes no autocuidado necessitam que o serviço de saúde lhes faculte o conhecimento sobre o fenómeno da dependência no autocuidado em contexto familiar. É também fundamental que o planeamento da preparação das famílias para tomar conta de idosos com dependência no autocuidado, seja assumido pelos enfermeiros como uma prática profissionalizada, no sentido de promover a autonomia destas pessoas e, simultaneamente, diminuir a sobrecarga do cuidador. Palavras-chave: Família, Idoso, Dependência no autocuidado, Sobrecarga do cuidador; Cuidados de enfermagem.
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DOI: http://dx.doi.org/10.60468/r.riase.2023.9(1).606.134-155
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