Pelas portas de vidro da Internet: As examinações (in) comensuráveis da figura do estrangeiro
Resumo
Pensar a internet como uma porta de vidro, permite-nos conjeturar o que se passa do outro lado. Concebida a partir da metáfora porta de vidro enxergamos um mar de informações que nos levam a produzir sensações sobre o que se passa daquele outro lado. Somos presenteados com a possibilidade de avistar o outro através daquilo que ele ali posta com mais ou menos frequência. Por vezes somos privados de sentir o que realmente acontece na alteridade do ser que por ali navega através dos seus registos. Imagens, ora límpidas ora turvas, constroem uma realidade pluriforme. O ruído produzido pela internet acaba por gerar diversos sentimentos naqueles que, do outro lado da porta de vidro, olham atentamente para aquilo que ali tem estado a ser assinalado. Os exercícios interpretativos nem sempre resultam em acordo. Gestação de equívocos pode ser um daqueles resultados. Seja quais forem as gramáticas de razões ancoradas nas discórdias e em disputas vocabulares é sobre os seus efeitos atuantes que reside o nosso foco neste artigo. São vozes que se levantam, expondo os seus juízos e qualificações sobre os estrangeiros, mas outras tantas evitam entrar na conversa por meio da escrita, ou delas se desligam mostrando-se indiferentes às controvérsias entre o enfurecido e o manso. Assim, o artigo pretende analisar a representação construída pela figura do estrangeiro nas redes sociais em Portugal na peugada da listagem das (des) qualificações desenhadas nos textos sobre o outro que chega. É só da reciprocidade angular permitida pela porta de vidro que assenta os efeitos das trocas produzidas na Internet ou através da porta as circulações dão azo a travessias na ponte?
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