Pelas portas de vidro da Internet: As examinações (in) comensuráveis da figura do estrangeiro

José Manuel Resende, Lucas Freitas de Souza

Resumo


Pensar a internet como uma porta de vidro, permite-nos conjeturar o que se passa do outro lado. Concebida a partir da metáfora porta de vidro enxergamos um mar de informações que nos levam a produzir sensações sobre o que se passa daquele outro lado. Somos presenteados com a possibilidade de avistar o outro através daquilo que ele ali posta com mais ou menos frequência. Por vezes somos privados de sentir o que realmente acontece na alteridade do ser que por ali navega através dos seus registos. Imagens, ora límpidas ora turvas, constroem uma realidade pluriforme. O ruído produzido pela internet acaba por gerar diversos sentimentos naqueles que, do outro lado da porta de vidro, olham atentamente para aquilo que ali tem estado a ser assinalado. Os exercícios interpretativos nem sempre resultam em acordo. Gestação de equívocos pode ser um daqueles resultados. Seja quais forem as gramáticas de razões ancoradas nas discórdias e em disputas vocabulares é sobre os seus efeitos atuantes que reside o nosso foco neste artigo. São vozes que se levantam, expondo os seus juízos e qualificações sobre os estrangeiros, mas outras tantas evitam entrar na conversa por meio da escrita, ou delas se desligam mostrando-se indiferentes às controvérsias entre o enfurecido e o manso. Assim, o artigo pretende analisar a representação construída pela figura do estrangeiro nas redes sociais em Portugal na peugada da listagem das (des) qualificações desenhadas nos textos sobre o outro que chega. É só da reciprocidade angular permitida pela porta de vidro que assenta os efeitos das trocas produzidas na Internet ou através da porta as circulações dão azo a travessias na ponte?


Texto Completo:

PDF

Referências


Aragão, A. (2011). Prevenção de riscos na União Europeia: o dever de tomar em consideração a vulnerabilidade social para uma protecção civil eficaz e justa. Revista Crítica de Ciências Sociais, (93), 71–93. https://doi.org/10.4000/rccs.174

Auray, N. (2013). Pour une éthique sociale à l’ère numérique : vers une humanisation des sociétés ouvertes. In P. A. Chardel & B. Reber (Eds.), Ecologies sociales. Le souci du commun (pp. 1–12). Lion: Parangon. Retrieved from http://ses-perso.telecom-paristech.fr/auray/EcologieNumerique.pdf

Bauman, Z. (2017). Estranhos à nossa porta. Rio de janeiro - RJ: Jorge Zahar Editor Ltda.

Boltanski, L. (1990). L’Amour et la Justice comme compétences. Trois essais de sociologie de l’action. Éditions Métailié. Paris, France: Éditions Métailié.

Boltanski, L., Darré, Y., & Schiltz, M.-A. (1984). La dénonciation. Actes de La Recherche En Sciences Sociales, 51(1), 3–40. https://doi.org/10.3406/arss.1984.2212

Boltanski, L., & Thévenot, L. (1991). De la Justification. Les économies de la grandeur. Éditions Gallimard (1a ed.1987). Paris, France: Éditions Gallimard.

Breviglieri, M. (2008). Le « corps empêché » de l’usager (mutisme, fébrilité, épuisement). Aux limites d’une politique du consentement informé dans le travail social. In J. P. PAYET, F. GIULIANI, & D. LAFORGUE (Eds.), La voix des acteurs faibles. De l’indignité à la reconnaissance (pp. 215–229). Rennes: Presses Universitaires de Rennes.

Breviglieri, M. (2016). Pensar a dignidade sem falar a linguagem da capacidade de agir : uma discussão crítica sobre o pragmatismo sociológico e a teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Terceiro Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política, 6(1), 11–34. Retrieved from https://www.academia.edu/34693420/Pensar_a_dignidade_sem_falar_a_linguagem_da_capacidade_de_agir_uma_discussão_crítica_sobre_o_pragmatismo_sociológico_e_a_teoria_do_reconhecimento_de_Axel_Honneth

Breviglieri, M., & Stavo-debauge, J. (2006). Sous les conventions. Accompagnement social à l’insertion : entre sollicitude et sollicitation. In F. Eymard-Duvernay (Ed.), L’économie des conventions. Méthodes et résultas (Tomo II, pp. 129–144). Paris: Éditions La Découverte. Retrieved from https://www.cairn.info/l-economie-des-conventions-methodes-et-resultats-2--9782707148780-page-129.htm

Cefaï, D. (1996). La construction des problèmes publics. Définitions de situations dans des arènes publiques. Revue Réseaux, 14(75), 43–66. https://doi.org/10.3406/reso.1996.3684

Cefaï, D. (2002). Qu’est-ce qu’une arène publique? Quelques pistes pour une approche pragmatiste. In D. Cefaï & I. Joseph (Eds.), L’heritage du pragmatisme conflits d’urbanite et epreuves de civisme (Editions d, pp. 52–81). La Tour d’Aigues.

Cefaï, D. (2005). Os novos movimentos de protesto em França. A articulação de novas arenas públicas. Revista Crítica de Ciências Sociais, (72), 129–160. https://doi.org/10.4000/rccs.985

Cefaï, D. (2011). Como uma associação nasce para o público: vínculos locais e arena pública em torno da associação. In D. Cefaï, M. A. da S. Mello, F. B. Veiga, & F. R. Mota (Eds.), Arenas públicas. Por uma etnografia da vida associativa (pp. 67–102). Niterói-RJ: Editora UFF. Retrieved from http://lemetro.ifcs.ufrj.br/Cefai_Como_uma_associacao_nasce_para_publico_2011-libre.pdf

Costa, S., Monteiro, M., Moutinho, E., Silva, A., Nasciemento, G. B., Moutinho, A., … Pires, A. (2019). Pelo fim imediato da entrada de refugiados em Portugal : Petição Pública. Retrieved March 11, 2019, from https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT78324

Freire, J. (2010). Agir no regime de desumanização: Esboço de um modelo para análise da sociabilidade urbana na cidade do Rio de Janeiro. Dilemas: Revista de Estudo de Conflito e …, 3(10), 119–142. Retrieved from https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7186

Lemieux, C. (2009). Le Devoir et la Grâce. Economica (Etudes Soc). Paris, France: Economica.

Mariot, N. (2011). Does acclamation equal agreement? Rethinking collective effervescence through the case of the presidential “tour de France” during the twentieth century. Theory and Society, 40(2), 191–221. https://doi.org/10.1007/s11186-011-9139-3

Mills, C. W. (1940). Situated actions and vocabularies of motives. American Sociological Review, 6, 904–913.

Petição Pública (Autor não identificado). (2019). Cidadãos Portugueses contra a assinatura do Pacto Global para a Migração : Petição Pública. Retrieved March 21, 2019, from https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT91195

Reis, G., & Freire, J. (2003). Participação e Arenas Públicas: Um Quadro Analítico para Pensar os Conselhos Municipais Setoriais e os Fóruns de Desenvolvimento Local. Cadernos Metrópole, (10), 75–102. https://doi.org/http://doi.org/10.1590/9200

Simmel, G. (2004). O Estrangeiro. In Georg Simmel, Fidelidade, Gratidão e Outros Textos (pp. 133–141). Lisboa: Relógio D’Água.

Stavo-debauge, J. (2017). Les qualités de l’hospitalité et l’idée de <>. In In/Out : Designing Urban Inclusion. Bruxelles, Bélgica: Metrolab Brussels. Retrieved from https://www.academia.edu/31539397/Les_qualités_de_lhospitalité_et_lidée_de_ville_inclusive_

Thévenot, L. (2006). L’Action Au Pluriel. Sociologie Des Regimes D’Engagement. LA DECOUVERTE (Politique). Paris, France: LA DECOUVERTE.

Thévenot, L. (2014). Voicing concern and difference: from public spaces to common-places. European Journal of Cultural and Political Sociology, 1(1), 7–34. https://doi.org/10.1080/23254823.2014.905749

Trom, D. (2001). Grammaire de la mobilisation et vocabulaires de motifs. In D. Cefaï & D. Trom (Eds.), Les formes de l’action collective (pp. 99–134). Paris: Éditions L’EHESS.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.


ISSN eletrónico: 2184-2647 | ISSN impresso: 2183-9220  (suspensa a edição impressa)

Revista Indexada no Diretório e Catálogo  do Latindex com o Folio n.º  26777

 Apoios:
CICS.NOVA

com apoio da FCT/MCTES através do Financiamento Plurianual de Unidades de I&D

Referência UIDB/04647/2020

Com a colaboração técnica dos Serviços de Informática da Universidade de Évora